O MEMORIAL DE AIRES- MACHADO DE ASSIS

DESCONFIE DO NARRADOR




Ao desdenhar da importância da Abolição, o romance final de Machado de Assis é, na verdade, uma crítica à elite imperial

Pedro Coelho Fragelli

1/10/2012
  • Último romance de Machado de Assis, o Memorial de Aires costuma ser visto, salvo raríssimas exceções, como um livro que dá as costas à sociedade e à História. Afinal, embora a ação se passe entre o início de 1888 e meados de 1889, os acontecimentos ligados à abolição da escravatura praticamente não são mencionados na narrativa.
    O enredo se restringe ao ambiente doméstico das personagens principais. Após a publicação do livro, em 1908, alguns críticos acusaram o grande escritor de desinteresse pelo movimento abolicionista e pelo fim da escravidão. Outros sustentam até hoje que Machado se dedica a estudar, em seu romance final, alguns temas clássicos – como o amor, a velhice e a morte – sob perspectiva universalista, ou seja, indiferente às condições históricas.
    Essa leitura não leva em consideração um dado fundamental: o narrador do Memorial de Aires é uma das personagens do romance. Trata-se do conselheiro Aires, um diplomata aposentado que registra e comenta em um diário íntimo os fatos que ocorrem à sua volta. Conforme explica a “Advertência” feita ao leitor no início do livro, o Memorial é uma seleção de trechos desse diário. Desse modo, ao contrário do narrador realista tradicional, que está fora ou acima do universo do romance, o narrador do Memorial de Aires – assim como nas Memórias póstumas de Brás Cubas e em Dom Casmurro – está dentro do círculo social que observa e descreve. Como qualquer pessoa, tem interesses próprios, preconceitos específicos e, sobretudo, pertence a uma classe social. Seu ponto de vista sobre os fatos, portanto, é parcial, o que compromete a objetividade do discurso.
 
 

Este tema é bastante interessante para propor aos alunos uma leitura atenta aos detalhes da obra e realizar uma resenha crítica onde possam argumentar sobre o que compreenderam do livro. Uma aula de história onde o professor possa realizar explicações sobre os acontecimentos da época também seria interessante.

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